Nos artigos que publicamos hoje, você vai ler sobre: Icaro Doria é desligado da DM9 após polêmica em Cannes, Prêmio Exportação RS anuncia os vencedores de sua 53ª edição, Simples e Eficaz: como ações criativas em datas comemorativas podem gerar grandes resultados para as marcas, Um sistema econômico que precisa excluir os idosos é fracassado e imoral, A mídia do futuro não será televisionada, será transacionada e Micro aposentadoria: a solução da Geração Z contra o esgotamento é não esperar até os 65 anos para se aposentar

 

Icaro Doria é desligado da DM9 após polêmica em Cannes

Por Renata Suter

 

A DM9 anunciou ontem, dia 26 de junho, o desligamento de Icaro Doria, até então copresidente e Chief Creative Officer (CCO) da agência desde 2022.

De acordo com a agência, a decisão foi tomada em comum acordo, encerrando uma parceria iniciada há três anos junto com o relançamento da DM9 no Brasil.

Durante a semana passada, quando aconteceu o Cannes Lions 2025, a agência alterou, digitalmente, o videocase que acabou ganhando GP pela ação criada para a Consul.

A saída de Icaro se dá dias após o próprio profissional ter admitido sua responsabilidade no que tem sido um dos episódios mais polêmicos dessa edição do Cannes Lions.

 

Sobre o ProXXima, na semana passada.

Fernando Silveira

O PROXXIMA, organizado pela Meio & Mensagem, apresentou, em 2025, um evento muito atento a alguns pontos importantes. Destaque para: aplicação da Inteligência Artificial nas rotinas do mercado, entrosamentos das mídias e o, agora sim, ainda mais importante papel das agências de propaganda no olhar crítico e criativo para as marcas.

Sobre IA encontramos nos mais variados painéis os seguintes pilares: – Como ferramenta: todos os caminhos levaram aos estudos sobre a sua aplicação muito além da automação e entra no campo da personalização profunda das campanhas publicitárias | – Os desafios éticos: existe uma crescente pressão sobre as agências de propaganda, conteúdo e também veículos de comunicação para garantir transparência e responsabilidade na aplicação da IA, evitando manipulação ou desinformação | – O impacto atual nas agências: num caminho prático, fica óbvia a redução de custos operacionais em várias disciplinas, mas ao mesmo tempo, exige que os profissionais se adaptem às novas ferramentas tecnológicas e se reinventem em seus papéis estratégicos e criativos. Neste ponto, o modelo full agency pode ser desafiado pela capacidade da IA de realizar tarefas repetitivas, como criação de anúncios, análise de dados e gestão de campanhas em tempo real.

Sobre criatividade, ficou evidente a transformação no contexto digital, colocando em dúvida o tempo para as ideias, bem como o custo a longo prazo da ideia pela ideia e seus modismos, levando a crer que a visão cultural e artística ainda são decisivas para conceitos coerente, eficientes e consistentes. Outro ponto, neste tema, foi o “hibridismo” entre as inteligências, mostrando que o acúmulo e acesso às informações que formam a base para grandes ideias está evidentemente “robotizado”, mas o disruptivo, sensorial e transformador acontece a partir de ideias propositivas, totalmente novas.

Quanto às mídias tudo girou em torno do, ainda prematuro mas perceptível, duelo entre streaming e redes sociais, ambos na busca da atenção total. Entretanto, a visão de complementariedade ainda é a mais inteligente e lógica.

Já sobre o futuro das agências de propaganda a intensidade, quase repetitiva, concentrou-se na necessidade da criatividade dos publicitários de agências, com o olhar refrigerado pela vivência de várias marcas e diferentes desafios. Claro que, estratégia e impulso baseado em dados apareceu em diversas falas, sempre com a exigência a adaptação às transformações digitais. Outro ponto que é necessário considerar é a necessidade das parcerias interdisciplinares.

E resumo, o Proxxima 2025 mostrou que a convergência entre tecnologia, criatividade e estratégia é o único caminho para marcas e agências que buscam o novo com resultados A inovação constante e o equilíbrio entre o humano e o digital serão cruciais para o sucesso nas próximas décadas (ou meses, depende da pressa).

 

Prêmio Exportação RS anuncia os vencedores de sua 53ª edição

Por Mari Alves

 

O Conselho do Prêmio Exportação RS divulgou nesta quinta-feira, dia 26, a lista das empresas que se destacaram no cenário exportador em 2024. Ao todo, 60 organizações serão reconhecidas por sua competência de mercado, visão estratégica e contribuição para o fortalecimento da economia do Rio Grande do Sul. A cerimônia de entrega do prêmio será realizada no dia 14 de agosto, na Casa NTX, em Porto Alegre.

“Reconhecemos a enorme relevncia do Prêmio Exportação, que vai muito além de uma celebração anual. É gratificante ver como, a cada edição, as empresas exportadoras gaúchas compreendem que esse reconhecimento representa um compromisso contínuo. Durante todo o ano, atuamos lado a lado com essas organizações, oferecendo suporte por meio de palestras, eventos e informações de alta qualidade, consolidando o prêmio como uma referência fundamental para o setor exportador do Rio Grande do Sul”, destaca Rafael Biedermann Mariante, presidente do Conselho do Prêmio Exportação RS.

Para Edmilson Milan, CEO do Prêmio Exportação RS, “o desempenho das empresas gaúchas em 2024 reafirma o protagonismo do Estado no comércio exterior brasileiro. No último ano, as exportações gaúchas somaram US$ 21,9 bilhões, evidenciando a força do setor e o compromisso das organizações com a inovação e a competitividade internacional, mesmo em um ano atípico devido às enchentes”, pondera.

O Conselho do Prêmio Exportação RS é formado por lideranças de instituições que possuem relação de suporte ou apoio ao cenário exportador gaúcho. São elas: ADVB/RS, ApexBrasil, Badesul, Banco do Brasil, Banrisul, BRDE, Correios, FARSUL, Federasul, Fecomércio-RS, FIERGS, Transforma RS, Portos RS, Sebrae RS, Secretaria do Desenvolvimento Econômico (Sedec) e UFRGS.

 

Confira a lista completa das empresas vencedoras abaixo.

Destaque Empresas Comerciais Exportadoras e Trading Companies

HD Parts

CLX GROUP

Priority Automotive

 

Destaque Serviços de Suporte à Exportação

AMRG – CARGONAVE GROUP

Luber Gestão de Riscos Logísticos

Interlink Cargo

Euro-América

Transportadora Real 94

Pibernat

Kuehne+Nagel

MBX Global Services

Clemar Assessoria E Logística Em Comércio Internacional

Grupo Orion Marítima

Wilson Sons – Unidade Tecon Rio Grande

Terminal Graneleiro S.A – TERGRASA

Efficienza Negócios Internacionais

 

Destaque Setorial | Indústria

Hyva do Brasil

Peccin

Finger Ambientes Personalizados

<OU>

Dubai Alimentos – Distinção Ouro

Grupo Crisdu

Stihl

Forbal Automotive

Tecnovin

Calçados Beira Rio SA

Unylaser Produtos e Componentes Metálicos

Fante Bebidas

Taurus Armas S.A.

Docile

NOKO QUÍMICA – Distinção Diamante

TDK

CMPC Brasil

Nutrire Indústria de Alimentos Ltda

Mantova Indústria De Tubos Plásticos

Maxiforja Componentes Automotivos Ltda – Distinção Diamante

Randon – Distinção Diamante

Vibra Foods

Termolar

FCC

Vence Tudo

Bebidas Chiamulera

 

Destaque Setorial | Agro

Cooperativa Vinícola Aurora – Distinção Diamante

SLC Agrícola S.A.

Salton

Supra

Oderich

3tentos

Divinut

Be8

RAR Agro & Indústria

 

Destaque Setorial | Serviços

Interact Solutions

 

Destaque Inovação Tecnológica

Ael Sistemas

 

Destaque Branding Internacional

Marcopolo

Pabovi Indústria De Plásticos SA

DaColônia

Maria Pavan

Premium International Freight Agency

 

Destaque Pequeno Desbravador Internacional

David Rivillo – Pasta Design

 

Economia Criativa

Druzina Content

 

Simples e Eficaz: como ações criativas em datas comemorativas podem gerar grandes resultados para as marca

 

Datas comemorativas são muito mais do que oportunidades para aquecer as vendas: elas funcionam como pontes poderosas entre marcas e consumidores. Com criatividade e ações pontuais podem gerar conexões de confiança e até transformar clientes em verdadeiros embaixadores da marca. É o que afirma Daniela Helena Sanzone, sócia-diretora da Joia – Experiências que Transformam, agência especializada em eventos corporativos e live marketing com 13 anos de atuação.

De acordo com um especialista, o segredo está em traduzir o espírito de dados em experiências memoráveis. “Quando uma ação é bem planejada, ela fortalece vínculos e posiciona a marca de forma afetiva na mente do consumidor”, destaca Daniela.

O live marketing oferece um leque de estratégias para ampliar a visibilidade e o engajamento das marcas. Entre as possibilidades, estão ativações no ponto de venda, campanhas interativas nas redes sociais, envio de kits temáticos e até a personalização de espaços financeiros e digitais com elementos ligados a dados comemorativos.

Outras iniciativas de envolvimento desafios temáticos ou quiz shows com prêmios, que reforçam a cultura da marca ou empresa de forma lúdica e envolvente. Além disso, experiências digitais interativas, como jogos personalizados ou campanhas de conteúdo geradas pelo usuário, ampliam o alcance da ação e estimulam o engajamento.

E nem sempre são necessários grandes investimentos para gerar impacto. Para Daniela, uma ativação bem planejada não apenas fortalece a relação com o público, mas também insira uma marca na história de seus clientes e, consequentemente, não imaginário das futuras gerações.

 

O silencioso empobrecimento intelectual da liderança

Por André Turqueto

 

Vivemos em uma era de acesso irrestrito à informação – e, paradoxalmente, de um perigoso empobrecimento intelectual entre líderes. Essa é a provocação que trago, inspirada tanto pela minha vivência executiva quanto pelo Relatório de Riscos Globais de 2024, do Fórum Econômico Mundial.

Segundo o relatório, a desinformação desponta como o maior risco de curto prazo no planeta. A médio e longo prazo, esse quadro tende a se agravar, impulsionado por incertezas tecnológicas, pela desintermediação caótica da mídia tradicional e pelos efeitos ainda imprecisos da inteligência artificial.

Em um mundo onde a internet fabrica “tudólogos” com opiniões prontas em segundos, um estudo da IBM com mais de três mil CEOs globais (incluindo brasileiros) apontou uma contradição: apenas 23% disseram ser capazes de converter o volume de informação que acessam em decisões realmente estratégicas.

A sobrecarga de conteúdo, em vez de iluminar, tem obscurecido o discernimento. A produtividade virou fetiche, e o pensamento crítico, luxo.

A cultura da hiperexposição digital também contribui. Segundo a pesquisa Liderança Conectada, da Brunswick, 82% das pessoas esperam que CEOs tenham presença ativa nas redes sociais. Isso nos empurra para um ciclo de presença constante, onde ser acessível o tempo todo se tornou um novo padrão de desempenho – mesmo que à custa da profundidade de pensamento.

O imperativo de estar sempre disponível nos transforma em solucionadores de urgências, não em formuladores de estratégias duradouras. A energia dispendida para estar em evidência pode estar produzindo bons comunicadores digitais, mas fatalmente tem reduzido nossa habilidade de concentração no essencial.

Nesse ambiente, a leitura aprofundada, o cultivo do senso crítico, a dedicação às relações humanas, o tempo para reflexão e o desenvolvimento de repertório cultural – pilares essenciais da boa liderança – vão sendo substituídos por respostas rápidas, frases de efeito e uma espécie de preguiça intelectual generalizada.

A consequência é um tipo de liderança apática, passiva, imediatista, cada vez mais dependente de atalhos tecnológicos e menos conectada com o espírito coletivo.

 

PENSAMENTO CRÍTICO E INÉRCIA INTELECTUAL

Tenho observado que muitos tomadores de decisão seguem operando com base em consensos muitas vezes ultrapassados – econômicos, organizacionais, culturais – sem questionar suas premissas.

Isso cria um tipo de inércia disfarçada de maturidade: executivos experientes que, por receio de desagradar, divergir ou parecerem idealistas demais, vão minando o discernimento e acabam tomando decisões previsíveis, mornas e, em última instância, irrelevantes.

Um estudo da “Harvard Business Review” revelou que 67% dos executivos admitem evitar decisões mais ousadas por receio da reação do board ou da mídia.

É nesse ponto que reside o maior risco: a eclosão de uma elite intelectual e empresarial que se informa demais, mas compreende de menos. Que interage sem escutar, que decide com pouco contexto. Falamos muito, mas evitamos o diálogo.

A superficialidade está se tornando norma e vamos seguindo a manada. Troca-se o livro por um thread, a conversa por uma notificação, a análise por um post.

Aos poucos estamos atrofiando nossa capacidade de formular hipóteses, exercitar empatia, discutir ideias e sustentar visões com base em conhecimento estruturado.

A inteligência artificial, apesar de seu imenso potencial, amplia esse dilema. Em vez de complementar nossa inteligência com novas possibilidades, corremos o risco de substituí-la.

Consultamos a IA antes de provocar nossa própria curiosidade. Delegamos a ela o pensamento, quando deveríamos usá-la como alavanca para explorar o novo, e não como muleta para evitar o esforço da reflexão.

 

UM PASSO ATRÁS, DOIS À FRENTE

Não defendo aqui uma rejeição à tecnologia, mas sim uma reconexão com o que nos torna líderes relevantes: o uso e a valorização de tempo de qualidade para pensar. O olhar demorado. O aprendizado contínuo.

Quanto mais amplo o nosso repertório – interesse pela história, pela arte, pela música – maior a destreza de formulação de um pensamento “lateral”, não óbvio.

Tudo aquilo que não é comum à nossa atividade fomenta a capacidade de enxergar o todo, de dialogar com o coletivo, de agir com propósito, e de transformar. O país precisa de líderes intelectualmente inquietos, culturalmente instigados e socialmente conscientes, não apenas eficientes.

A verdadeira revolução da liderança não virá da velocidade, mas da lucidez. Precisamos desacelerar para enxergar melhor, silenciar para ouvir, conectar para inovar e resgatar a humanidade essencial em cada decisão que tomamos.

Tenho exercitado esse olhar todos os dias e convido outros CEOs a fazerem o mesmo: dar um passo atrás, para então avançar dois à frente – com mais profundidade, propósito e impacto.

 

Um sistema econômico que precisa excluir os idosos é fracassado e imoral

Por Tibor Rabóczkay, professor aposentado do Instituto de Química da USP

 

Para os aposentados, Auschwitz? Este era o título do artigo que publiquei em nosso Jornal da USP em fevereiro de 2003. Considerações suscitadas por uma publicação do Financial Times, cujo autor pondera que, com 90% dos custos de saúde para o indivíduo médio nos países industrializados se dando nos últimos seis meses de vida, o debate sobre a eutanásia adquire uma dimensão econômica crescente e terrível.

Na nossa sociedade, afirma ele, o suicídio poderá parecer um caminho lógico para as pessoas protegerem seus dependentes (não gastando suas economias). Corro o risco de ser repetitivo, pois os ataques à aposentadoria continuam – e continuam com as mesmas alegações no decorrer de décadas. Recentemente, em diário de grande circulação, dois empresários de “sucesso” expressaram seus receios de um aumento real no salário mínimo com consequente aumento das aposentadorias e pensões. Outra autoridade de brilhante passado em governo liberal lançou ideia de, simplesmente, congelar as aposentadorias por alguns anos. O afligimento dos economistas liberais com a Previdência oficial, com propostas que beiram a insanidade, vem ecoado diariamente na imprensa também liberal de forma direta ou embutido em temor em face da “alarmante escalada do déficit da Previdência”.

Entre as soluções generosamente propostas:

“1) uma nova reforma da Previdência, para aumentar a idade de aposentadoria, eliminar a diferença de idade entre mulheres e homens e entre os regimes rural e urbano; 2) desvincular o salário mínimo do cálculo de benefícios previdenciários e assistenciais; […]” (“O Brasil está preparado para a crise que vem aí”, de Maílson da Nóbrega e João Pedro Leme, em “O Estado de S. Paulo”, 13/05/2025).

Economistas que concluam ou opinem do contrário perderam espaço na mídia liberal, cuja “liberdade de expressão” é severamente limitada pelos interesses dos anunciantes e de seus donos.

Há uma verdadeira prestidigitação contábil para tirar da cartola as provas do déficit da Previdência com seus malefícios para a economia. Paralelamente, se promove a tal da “previdência” complementar (também denominada privada), aberta, mediante a “capitalização”, um programa de contribuições acumuladas individualmente em contas pessoais, investidas para gerar rendimentos.

A “capitalização” possibilitaria “ao trabalhador acumular recursos financeiros para receber uma renda extra na aposentadoria”. Essa renda, porém, não é uma aposentadoria, como querem fazer parecer aos incautos, mas um misto de poupança e aplicações, e envolve risco. Risco de aplicações que dão prejuízo, risco de fraude, risco de falência da instituição e o risco inerente às incertezas do “longo prazo”. “Planejamentos a longo prazo” – adverte-nos Max Gunther em seu livro Os axiomas de Zurique – “geram a perigosa crença de que o futuro está sob controle”, mas “[…] É importante jamais levar muito a sério os planos a longo prazo, nem os de quem quer que seja”.

Apenas o Estado pode-nos oferecer garantia. Além disso, enquanto a aposentadoria oficial vai até a fim da vida, a “renda extra” da previdência privada é limitada pela contribuição-poupança feita pelo trabalhador, que limita seu consumo e bem-estar, para poder contribuir à “previdência” privada.

Grande parte da previdência privada aberta é gerida por instituições de agiotagem (agiota é o qualificativo que melhor descreve quem paga geralmente menos de 12% ao ano pelo dinheiro aplicado e cobra em redor de 400% ao ano pelo emprestado), mas existem instituições de previdência privada fechada, popularmente conhecidas como fundos de pensão, que podem parecer uma opção melhor.

Esses fundos são entidades sem fins lucrativos e se organizam sob a forma de fundação ou sociedade civil constituídas exclusivamente para empregados de uma empresa ou grupo de empresas, ou aos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, e para associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial.

Contudo, servem de alerta os eventos envolvendo duas organizações poderosas desse tipo, o fundo de pensão Postalis, dos funcionários dos Correios, e o Petros, dos funcionários da Petrobras. Má gestão, eventuais interferências do governo, possivelmente fraudes, causaram-lhes bilhões de prejuízos. Prejuízos que oneram os segurados com o aumento da contribuição mensal ou diminuição do benefício planejado.

Os dois fundos não são os únicos a apresentar problemas. Exame do Tribunal de Contas da União (TCU), envolvendo 31 entidades fechadas de previdência complementar, revelou que metade delas apresenta extremos riscos de integridade decorrente da “baixa maturidade” dessas instituições no que diz respeito aos mecanismos de controle. A eventual materialização desses riscos pode resultar em “grande impacto e repercussões negativas em todo o sistema de previdência complementar”. Trata-se de ameaça inaceitável para o aposentado. É fácil concluir, portanto, que a Previdência, a aposentadoria, são assuntos importantes demais para serem deixados a cargo da cobiça privada ou governamental, devendo se manter sob a responsabilidade do Estado.

A “preocupação” dos que se batem por mais uma etapa no aniquilamento da Previdência Social é a “sustentabilidade financeira”. Como a Previdência oficial brasileira funciona no sistema de repartição, isto é, quem está trabalhando paga a aposentadoria de quem é aposentado, com o envelhecimento da população surge um déficit, pois aumenta o número de aposentados enquanto diminui o número de contribuintes. Esse déficit tem que ser coberto pelo governo, consequentemente sobraria menos verba para outras áreas como a infraestrutura, o que contribui para a aflição do “mercado”. Entenda-se, não para o mercado real de oferta e demanda de produtos e de serviços, mas para o “mercado” financeiro, nome de salão do frenético cassino financeiro, que busca ganhos a curto prazo se não instantâneos.

Evidentemente, a argumentação é elaborada para disfarçar que nos interesses desse “mercado” a “mão invisível que harmoniza tudo” cede lugar ao nervoso tamborilar num teclado e o ”investidor” pode mudar de posição em questão de pouquíssimo tempo. O adepto do capitalismo, liberalismo ou neoliberalismo – seja lá a designação que preferirem –, odiador de intervenções do Estado, de repente se lembra de que o dinheiro do Estado é útil para a construção da infraestrutura do País (para posterior privatização, obviamente), para socorrer as instituições do tipo “too big to fail”, para subvencionar áreas privilegiadas. E o “déficit” da Previdência oficial atrapalha tudo isso.

Desde a Constituição de 1988, a Previdência Social brasileira sofreu sete reformas. Reformas que propõem, de um lado, a limitação dos benefícios e, de outro, uma idade cada vez maior para o trabalhador poder usufruir da aposentadoria.

As propostas simplistas que se concentram no “crescimento” – não do País, como seus autores afirmam, mas dos lucros do capitalista – omitem-se em questões sociais importantes que ameaçam não só a classe assalariada ativa ou aposentada, mas o próprio capitalista ou liberal.

De um lado, devemos considerar a dificuldade de um trabalhador conseguir um emprego a partir dos seus, aproximadamente, cinquenta anos. Como estender a idade mínima para a aposentadoria sem garantir o emprego até tal idade? Uma exigência que não depende do segurado. Se, porém, o “idoso” conseguir emprego, um jovem terá oportunidade a menos. Consequentemente, ao ver seu pai recebendo uma aposentadoria miserável – nesta época de descrédito das ideologias, em que o crime organizado adquire cada vez maior participação na política e alguns grupos políticos vão cada vez mais se assemelhando a organizações criminosas –, o jovem sucumbe mais facilmente ao crime, que lhe promete inseri-lo na sociedade de consumo em questão de meses ou mesmo semanas.

Por outro lado, não é preciso ser especialista ou ter pós-graduação em universidade americana para entender que, perante suas perspectivas limitadas no tempo, o aposentado tende a reciclar seus ganhos em consumo e em lazer, alimentando a indústria de bens de consumo e o turismo. O aposentado contribui para a geração de lucro, empregos e impostos. Se o número de beneficiários aumenta, aumenta também a importância deles para a economia. Não pode ser diferente numa sociedade de consumo, e economia em que se produz para o consumo. Dito de outra maneira, a expressão “gastos previdenciários” – de presença tão insistente na mídia que nos evoca Goebbels – pode ser substituída por “investimentos previdenciários”, visto que o dinheiro do aposentado circula de imediato gerando empregos, impostos e lucros.

Um sistema econômico que substitui a análise crítica, as considerações morais e a responsabilidade social pelo desejo de acumular lucros a qualquer custo e cuja sobrevivência necessite o suicídio de aposentados, a exclusão de idosos, é um sistema fracassado, insustentável, imoral.

Reflitamos sobre tudo isso, pois só não se aposenta quem não envelhece, e só não envelhece quem morre jovem.

 

A mídia do futuro não será televisionada, será transacionada

Por Fernando Cabral

 

De um lado, temos a inteligência artificial (IA) ressignificando o marketing de aplicativos; do outro, a metamorfose de gigantes do varejo em instituições financeiras. E a intersecção desses dois universos não é uma previsão futurista, é uma realidade competitiva e o mapa do tesouro para quem quer liderar o amanhã.

Um estudo recente do Gartner aponta que os orçamentos de marketing devem permanecer estagnados em 7,7% da receita das empresas em 2025, uma queda drástica em relação à média de 11,3% vista entre 2015 e 2019. O resultado? Apenas 30% dos diretores de marketing (CMOs) acreditam ter o financiamento necessário para executar suas estratégias. Não surpreende que quase quatro em cada cinco deles sintam a pressão esmagadora de “fazer mais com menos”.

 

Fazendo mais com menos: a IA como motor de performance

Nesse contexto de recursos escassos, as equipes de marketing de aplicativos encontram na IA a sua maior aliada. Ferramentas de análise preditiva, com o apoio da inteligência artificial, agora entendem a linguagem natural e funcionam como uma fonte de orientação sobre dados.

A complexidade de antes dá lugar à simplicidade de um diálogo, o que supera a dependência de cientistas de dados para análises diárias. A IA traduz a complexidade dos dados em estratégias claras para as equipes de crescimento, gerando respostas acionáveis em segundos.

E essa tecnologia não apenas automatiza, mas também democratiza a estratégia, transformando dados em decisões e decisões em receita, otimizando a performance sem esgotar equipes. Em um universo no qual o Brasil foi o 3º país que mais baixou apps em 2024 – mais de 9,4 bilhões de downloads -, a IA é capaz de fazer a diferença.

 

Do carrinho ao crédito: o varejo como potência financeira

Enquanto a IA refina a eficiência dos aplicativos, uma transformação redefine o próprio conceito de ponto de venda. Os varejistas brasileiros não vendem mais apenas produtos, eles estão se tornando o banco do seu cliente. E uma análise realizada pela eMarketer sobre a América Latina é cirúrgica ao apontar essa tendência como uma oportunidade colossal para a “commerce media”.

Os números validam a revolução. Até 2027, o e-commerce brasileiro deve movimentar quase US$ 80 bilhões. Nesse ecossistema, gigantes como o Mercado Livre, com seu braço financeiro Mercado Pago, viram sua carteira de crédito crescer 34% em um ano, atingindo US$ 3,8 bilhões. A Magazine Luiza, por sua vez, já conta com mais de seis milhões de titulares de seu próprio cartão.

O que isso significa para a mídia? Com a minha experiência, vejo a criação do ecossistema publicitário próximo do ideal. O varejista agora detém o histórico de compra, a preferência de produto, os dados de navegação e, principalmente, o meio de pagamento e a oferta de crédito. A jornada do consumidor se fecha e acontece em um ambiente único e mensurável.

É nesse ponto que as duas correntes se encontram. A imensa quantidade de dados gerada por esses novos “varejistas-financeiros” é complexa demais para ser otimizada manualmente. Para extrair o valor real dessa infraestrutura, a inteligência artificial não é uma opção, é uma necessidade.

A oportunidade para a mídia comercial no Brasil é, portanto, dupla e sinérgica. Primeiro, alavancar as novas plataformas de retail media que esses gigantes estão construindo. Segundo, utilizar a IA como a chave para destravar o potencial dessas plataformas.

É a IA que permitirá a um anunciante identificar, em tempo real, o cliente com maior propensão a comprar um eletrodoméstico e, simultaneamente, oferecer-lhe um parcelamento exclusivo financiado pelo próprio varejista. É a fusão da intenção de compra com a viabilidade financeira, otimizada por algoritmos.

Estamos diante da próxima fronteira da publicidade: uma mídia contextual, transacional e profundamente inteligente. As empresas que compreenderem que a IA no marketing e a “fintechzação” do varejo são duas faces da mesma moeda não apenas navegarão com sucesso no futuro da mídia. Elas irão criá-lo.

 

Micro aposentadoria: a solução da Geração Z contra o esgotamento é não esperar até os 65 anos para se aposentar

Por Sabrina Costa

 

Os jovens da geração Z estão cada vez mais céticos em relação à possibilidade de se aposentar, e por isso vêm rompendo com a ideia tradicional de trabalhar sem parar até os 65 anos para, só então, descansar. Em vez de esperar décadas para aproveitar a vida, essa geração está impulsionando uma tendência que redefine o equilíbrio entre trabalho e bem-estar: a microaposentadoria.

Viver para trabalhar ou trabalhar para viver? Esse fenômeno, que ganhou força com as redes sociais, propõe pausas estratégicas na carreira profissional para recarregar as energias, explorar interesses pessoais e priorizar a saúde mental — tudo isso enquanto ainda se tem juventude e vitalidade.

Segundo publicou o The Guardian, o conceito tem origem no livro “Trabalhe 4 horas por Semana”, de Timothy Ferriss, em que o autor defende uma vida feliz e plena como prioridade, em vez de carreiras voltadas apenas a realizar os sonhos dos outros.

 

Já vai descansar quando se aposentar… ou não

Segundo uma pesquisa do ResumeBuilder.com, 13% dos aposentados nos Estados Unidos preveem que, em 2025, terão que voltar ao mercado de trabalho devido ao alto custo de vida, e 22% já estão trabalhando para conseguir se manter. Na Espanha, o cenário é justamente o oposto.

De acordo com um estudo da Fundação BBVA e do Ivie, a renda dos maiores de 65 anos no país é 6,4% superior à média europeia. Ambos os cenários são igualmente desafiadores para quem está iniciando a carreira agora.

No caso norte-americano, a geração Z descobriu que chegar à idade da aposentadoria não significa deixar de trabalhar, mesmo tendo passado a vida inteira empregado. Já na Espanha, a sustentabilidade das pensões e o envelhecimento progressivo da população também não garantem que os jovens que começam a trabalhar agora terão uma aposentadoria tão confortável quanto a dos atuais aposentados. Em ambos os casos, a ideia de descansar apenas após a aposentadoria está por um fio.

 

Maratona ou sprints

Diante desse dilema, a geração Z não está apenas repensando quando e como descansar, mas também como construir uma vida profissional mais sustentável e satisfatória, intercalando períodos sabáticos como “microaposentadorias” ao longo da carreira, como apontam reportagens da Bloomberg.

Diferentemente dos períodos sabáticos tradicionais, que geralmente dependem de acordos com o empregador e podem incluir algum tipo de salário, muitos jovens optam por deixar temporariamente o emprego e financiar esses breves momentos de pausa com suas próprias economias.

O objetivo é claro: aproveitar a energia e a saúde da juventude para viajar, aprender novas habilidades ou se dedicar a projetos pessoais, em vez de adiar esses sonhos até a velhice.

 

Dominando o trabalho remoto e a precariedade

Esse novo enfoque da geração Z também responde a uma realidade laboral marcada pela instabilidade e precariedade. Com o avanço da tecnologia e a normalização do trabalho remoto, a reinserção no mercado após uma microaposentadoria enfrenta menos resistência do que em gerações anteriores, quando um funcionário permanecia na mesma empresa por décadas.

Essa geração já demonstrou não temer mudanças frequentes de emprego, e inserir breves períodos de descanso entre trabalhos pode ser uma forma de aplicar esse modelo.

A possibilidade de trabalhar por projetos, em regime de meio período ou remotamente permite que essas pausas não signifiquem necessariamente retrocesso na carreira profissional.

De fato, segundo reportagem do The Conversation, na Austrália, algumas empresas oferecem aos funcionários licenças remuneradas após sete a dez anos de trabalho — uma espécie de licença parental, mas dedicada ao autocuidado.

 

O valor da saúde mental e do bem-estar

O bem-estar físico e mental está entre as principais preocupações da geração Z, sendo um dos incentivos para as microaposentadorias. Estudos da Organização Mundial da Saúde revelaram a relação direta entre longas jornadas de trabalho e o aumento de 29% nas mortes por doenças cardíacas e AVCs entre 2000 e 2016.

Diante desse cenário, os jovens preferem prevenir o esgotamento programando descansos prolongados, em vez de esperar que os problemas de saúde se acumulem ao longo dos anos.

O Business Insider destacou o caso de Anaïs Felt, gerente sênior em uma empresa de tecnologia no Vale do Silício, que, sobrecarregada pelo estresse e cansaço causados pelo trabalho, decidiu fazer uma pequena pausa na carreira.

“Chegava em casa tão exausta que simplesmente me jogava no sofá para descansar, jantava e depois ia dormir”, contou sobre sua rotina. “Não tinha energia para correr, nem para passar tempo com meu parceiro, nem para rir”, relatou Felt em um dos vídeos publicados em seu perfil no TikTok, onde compartilha sua experiência.

 

Tendência com muitos “poréns”

Embora a microaposentadoria se apresente como uma forma de equilibrar o autocuidado com a carreira profissional, a realidade muitas vezes se mostra obstinada e torna essa prática inviável.

Como Anaïs Felt lembrou na descrição de seu vídeo, antes de tirar uma dessas pausas ela já havia quitado o empréstimo estudantil e suprido algumas necessidades básicas, ressaltando o seguinte: “Se você pode bancar, na minha opinião, vale totalmente a pena.”

Na Bélgica, o Estado reconhece na Lei do Trabalho o direito à desconexão, oferecendo uma pausa temporária remunerada. Contudo, estudos anteriores a essa medida indicavam que fazer essa pausa podia causar impacto significativo na carreira — e esse impacto era mais persistente quanto mais jovens fossem os solicitantes.

Com os preços dos aluguéis disparados, o custo de vida em alta e salários apertados, a idade média para a emancipação na Espanha é de 30,4 anos, segundo dados da Eurostat. Caso a geração Z aposte na microaposentadoria, esse número pode aumentar no futuro, fazendo com que os jovens dependam por mais tempo do apoio familiar.